Jornal O Jogo | Entrevista a Serginho

O passo para trás pode valer a pena

O melhor que Serginho tem a dizer é que valeu a pena. O avançado, adaptado com sucesso a médio-ofensivo, cumpriu o objectivo a que se propôs: chegar aos seniores no Trofense. E fê-lo tão convincentemente que foi considerado, pelos treinadores da Liga Orangina, num trabalho levado a cabo por O JOGO, a jovem promessa do escalão. Com lugar no onze ideal e tudo! A história de Serginho começou quando ingressou nas escolinhas do clube, cheio de sonhos. E não tardou muito a que despertasse o interesse do FC Porto. Mas rumar todos os dias ao Porto era coisa que não dava jeito aos pais, que o consideravam, além do mais, demasiado novo. Serginho ficou "um pouco triste", admite, mas seguiu em frente. Chegou a iniciado e aí teve pela frente, num jogo, o namoro antigo, vestido de azul e branco. Fez uma assistência e sofreu uma grande penalidade; o FC Porto não teve como resistir e voltou à carga. Ajudava financeiramente e disponibilizava uma carrinha até Ribeirão, de onde Serginho é natural. Foram três temporadas nos escalões de formação dos dragões, mas a pouca utilização na última delas levou Serginho a tomar uma decisão que garante ter sido "difícil": arriscar sair para poder jogar mais. O FC Porto queria um empréstimo ao Leixões, o jovem o regresso ao Trofense, onde acabou por ir parar, cedido primeiro, depois em definitivo. Não se arrepende. "O Trofense deu-me tudo, sempre me tratou bem", diz. A meta era chegar a profissional. No segundo ano de júnior marcava presença nos treinos dos seniores e foi, inclusive, convocado para um jogo. Depois, chegada a hora de todas as decisões, integrou-se no plantel 2010/11. Mas não se limitou a fazer dele parte. Lutou e hoje, na primeira temporada de sénior, é já uma das figuras da equipa, ao ponto de ter renovado até 2013. Teve a estreia frente ao Penafiel, tendo jogado alguns minutos. E aí Serginho percebeu, quando entrou, que estava certo quando, aparentemente, deu um passo atrás. Afinal, conseguiu dar dois em frente e hoje pode dizer que valeu a pena.

Com personalidade e ratice

Porfírio Amorim sabe bem o que distingue Serginho dos outros jovens da mesma idade: "A forte personalidade." O treinador do Trofense ficou gradualmente rendido "à ratice que se costuma ver nos jogadores apenas uns anos mais tarde", e a juventude do jogador não o impediu de apostar em Serginho. Isto apesar da pré-época. "Foi o que jogou menos, mas disse-lhe para estar tranquilo, que ia ficar no plantel. Conhecia-o bem", relembra. A ideia de adaptar o avançado - pode desempenhar qualquer função no ataque - a médio surgiu naturalmente. "Começámos a ver nos treinos que, quando recuava, ele demonstrava características que a equipa não tinha, demonstrando uma grande qualidade de passe", explica. Confessando que não esperava que a "afirmação fosse tão rápida", Porfírio Amorim pretende, todavia, melhorar "alguns aspectos defensivos" em Serginho para que este possa atingir um patamar que lhe adivinha: jogar num grande clube. "É rápido, bom tecnicamente e com excelente visão de jogo. Tem as características dos grandes campeões, com uma personalidade fantástica. É um homem de competição, o jogo para ele é um desafio, e não tem medo. Isso é meio caminho andado", descreve. Porfírio Amorim está, por isso mesmo, satisfeito por o clube ter sido rápido a segurar a pérola com um novo contrato. "Na semana do Penafiel preparámos tudo, pois sabíamos que estava ali um grande valor. Salvaguardámos os interesses do clube", sublinha, satisfeito.

Deu dois golos logo a abrir

Serginho estreou-se frente ao Penafiel, mas foi no jogo com a Oliveirense, na jornada seguinte, que começou o ciclo na condição de titular do Trofense. O grande dia tinha chegado. Serginho recorda as conversas do treinador Porfírio Amorim e hoje assegura que as mesmas o "ajudaram muito". Interiormente, dizia: "Chegou a minha oportunidade e não a vou desperdiçar." Entrou em campo, e o que fez não esquecerá nunca: duas assistências para golo na vitória por 3-2. Uma exibição espectacular, que mereceu mensagens de muita gente que, no geral, lhe pedia "para continuar assim, com os pés na terra". Os pais, afirma, "estão orgulhosos", e deles recebeu os "parabéns". "Fizeram tudo para que eu me tornasse jogador, mas se calhar nem acreditavam", atira.

Médio? Já não quer outra coisa

Habituado a alinhar na frente de ataque, Serginho enfrentou o desafio de recuar um pouco no terreno e assumir as tarefas de médio-ofensivo, isto numa altura em que, com apenas 19 anos, tentava agarrar um espaço no plantel do Trofense. A tarefa não parecia fácil. "Olhei com estranheza", confessa ao recordar os primeiros tempos a conhecer o novo lugar. Mas, mais uma vez, Serginho foi firme, deu tudo o que tinha em busca do objectivo que perseguia e acabou por alcançá-lo. E fê-lo de tal forma que actualmente não tem o mínimo desejo de desempenhar qualquer outro papel dentro das quatro linhas. "Agora digo que é sem dúvida a minha posição", atira, convencido.

Mundial Sub-20 na mira

Serginho ainda não tem qualquer chamada às selecções jovens portuguesas, mas acredita que, "com trabalho", esse dia chegará. De resto, o Mundial sub-20, que se realiza este ano, em Julho e Agosto, na Colômbia e no qual Portugal estará presente, é um sonho que o jovem gostava de realizar. "É um objectivo", admite.

Um grande seria bom

Admirador de Cristiano Ronaldo, Serginho partilha o sonho de vestir a camisola de um dos grandes clubes portugueses. Tem simpatia pelo FC Porto graças às três temporadas que lá passou na formação, mas por enquanto só pensa no Trofense, emblema que diz ter no coração. Mais tarde, quem sabe?, emigrar pode ser uma hipótese.

Quer ser universitário

Ter uma promissora carreira pela frente não é suficiente. Serginho deixou para trás os estudos, mas prepara-se para prosseguir o 10º ano de escolaridade à noite. A ideia é concluir o 12º para poder entrar mais tarde na universidade. Quanto ao curso, não irá perder muito tempo a pensar nisso: quer seguir Desporto e manter-se na área de que sempre gostou. H.M.M.