quarta-feira, abril 06, 2011

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(O Jogo)

Fugiu à emigração
Se não fosse a intuição providencial do pai Joaquim, era quase certo que o destino de Licá seria muito diferente. Aquela decisão, já longínqua e sábia, evitou que ele fizesse as malas e partisse rumo ao mesmo futuro de milhares de emigrantes portugueses, em busca de um conforto económico e social impossível em Lamelas. Luís Carlos nasceu há 22 anos na aldeia do concelho de Castro Daire, mergulhada no esquecimento e distante de promessas felizes. Mas Licá, cuja alcunha recebeu pela imaginação da madrinha, teve a felicidade de ser abençoado pela visão do progenitor, que o inscreveu nas escolas de formação do Castro.


Ali crescia um jogador que ninguém acreditava que um dia seria o menino-bonito da pobre Lamelas - terra condenada à agricultura rudimentar e de fraco tecido empresarial. Nessa altura, Licá não vislumbrava uma saída de fuga, consciencializando-se de que o seu destino seria a partida. Se assim tivesse acontecido, então os golos do empate do Trofense no Estoril seriam feitos por outro, e Licá jamais sentiria o gosto de marcar o primeiro bis numa prova profissional.

Por entre ruínas romanas, da época do imperador Júlio César, ergueu-se o melhor jogador de sempre de Lamelas. "Não há mais ninguém famoso, além de mim", confessa. Quis o destino que escapasse a tempo da falência que condenou os clubes mais representativos: o Castro Daire e o Social Lamas. O primeiro está a ressuscitar dos escombros; já o outro desapareceu, restando a Licá a memória de fintas e golos no pelado. "Joguei no Social Lamas ainda com idade júnior. Acho que cheguei a tempo para dar o salto; foi a minha sorte", conta, afiando os finos pêlos que lhe crescem no queixo. Pelo resultado, foi uma excelente escola e trampolim para a Académica.

Luís Agostinho, então prospector dos academistas, gostou de o ver em acção e deu-lhe um contrato por duas épocas, entretanto prorrogado por mais três. Licá está a um ano de encerrar a ligação à Académica e completa duas como emprestado ao Trofense - a que se acrescenta, antes, a cedência ao Tourizense. "Mais vale dar dois passos atrás para poder dar um maior", diz, aceitando de forma positiva a situação que o pôs em contacto com o estatuto de campeão europeu de Tiago e a longa experiência de Zé Manel. "Eles têm muito que nos ensinar", diz.

Começou a extremo no Social Lamas, depois jogou a avançado na Académica, e agora o treinador Porfírio Amorim decidiu que deveria ser, explica, "médio-ofensivo, a jogar nas costas do ponta-de-lança". "Gosto mais desta posição, pois não tenho de ficar preso entre os centrais", acrescenta. E funcionou, há uma semana, com dois golos que evitaram uma perda maior. Não foi, e não será, a última vez que Licá decidirá um jogo. "Não me vejo como um jogador decisivo, mas espero continuar a marcar mais alguns golos para contribuir para a subida", promete.

C.A.

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