O Presidente do Clube Desportivo Trofense, Dr. Paulo Melro, concedeu uma
entrevista exclusiva ao site do Clube, fazendo o balanço de 2013 e
traçando o ano de 2014, a começar pela importante Assembleia de
Credores, no dia 17 de Janeiro.
1) Presidente, que balanço faz do ano 2013 para a Instituição Clube Desportivo Trofense?
Trata-se de um ano positivo, porque conseguimos dar esperança de vida ao
Clube. Conseguimos a manutenção na 2ª Liga com mérito, depois de um
início de época doloroso e de uma primeira volta pouco conseguida. A
margem erro era nula, estivemos sempre sobre pressão, mas o grupo de
trabalho liderado pelo treinador Micael Sequeira teve competência e
qualidade para inverter a situação e evitar o descalabro para o Clube. O
processo de constituição da SDUQ e de inscrição da equipa futebol
profissional foram grandes vitórias, tendo em conta os graves problemas
financeiros e administrativos que assolam o Clube. A pior fase do ano
aconteceu já esta época, onde passamos por um ciclo negativo de 14 jogos
sem ganhar, que provocaram descrédito e desconfiança sobre o nosso
projeto e sobre os nossos profissionais. No final do ano conseguimos
inaugurar um espaço emblemático para o Universo Trofense, a Loja do
Trofense. Diz-se que o homem sonha e a obra nasce e neste caso foi isso
que aconteceu. Foi um enorme orgulho para esta Direção conseguir
disponibilizar aos sócios um espaço recheado de histórias do Clube, de
simbolismo e de identidade. Gostava de deixar uma palavra de
reconhecimento e de agradecimento aos funcionários e diretores do Clube,
pessoas que trabalham nos bastidores e que diariamente dão muito de si
para este Clube funcionar. Muito do sucesso do nosso trabalho assenta no
esforço e na dedicação dessas pessoas ao Clube.
2) Momentos altos e baixos de 2013?
Escolho como momentos altos a concretização da manutenção desportiva da
época passada, destacando a semana fantástica de Abril, com vitórias nos
jogos frente ao Porto B, Santa Clara e Braga B, que nos permitiu ficar
muito perto do objetivo e a também a vitória desta época na Covilhã, que
teve um sabor muito especial, não só por ser expressiva e contundente,
mas porque encerrou um tremendo ciclo de 14 jogos sem ganhar. Como
momentos baixos temos a não aprovação do plano especial de revitalização
(PER), que colocou em risco a viabilidade do Clube e o encaminhou para
um processo de insolvência, dolorosamente fruto da ação e oposição de
uma empresa da Trofa, pertencente a uma família de Trofenses.
3) Como estão as finanças do Clube?
Continuamos com muitas dificuldades para cumprir com os nossos
compromissos. Fizemos um orçamento muito rigoroso e equilibrado, mas as
receitas fixas continuam abaixo das despesas. Continuamos à espera que a
Câmara Municipal da Trofa pague o subsídio de 2011, através do PAEL,
dinheiro esse que está afeto a compromissos da época passada. Como sabem
o Clube não recebeu subsídios camarários em 2012 e 2013 e estamos
expectantes sobre o subsídio que o atual executivo atribuirá ao Clube em
2014. Temos o apoio de muitas empresas, na qual destaco naturalmente a
Trifitrofa, na pessoa do Senhor Jaime Azevedo, sempre disponível para
ajudar o Clube, mas continua a ser insuficiente. O défice tem sido
atenuado graças às parcerias que temos feito no futebol profissional.
Estamos a repensar a estratégia para tornar o futebol profissional
autossustentável e, brevemente, teremos de expor esta situação aos
sócios, para tomarmos uma decisão, que pode passar pela constituição de
uma SAD, abrindo o capital a novos investidores. Se for aprovado, o
pagamento do plano de recuperação agravará o orçamento desta época e das
próximas em cerca de 15%. O Trofense não está à margem de muitos dos
Clubes que disputam as competições profissionais, ou seja, neste modelo
de receitas não são sustentáveis, nem viáveis, mesmo com os orçamentos
mínimos. A solução pode passar pela renegociação dos direitos de
transmissões televisivas e pela legalização das apostas on-line, mas
estes assuntos são muito delicados, pois convergem de acordo com os
interesses de terceiros. O futebol profissional ao nível da 2ª Liga tem
que ser repensado. Aproveito para informar que as contas do exercício de
2012/2013 estão em fase de conclusão, podendo ser apresentadas durante o
mês de fevereiro.
4) Na sua opinião a Liga de Clubes pode e deve fazer mais na luta pelos interesses dos Clubes?
Sei que o Senhor Presidente, Dr. Mário Figueiredo, tem-se empenhado
pessoalmente em duras lutas pelos interesses dos Clubes. Contudo, o
resultado é inglório, porque levantam-se outros valores em assuntos
delicados como já referi. Existe um grupo de Clubes que exige mais à
Liga, mas estes problemas só podem ser resolvidos pelas altas patentes
do futebol português e do nosso Governo. No que diz respeito à 2ª Liga,
houve sinergias que se criaram para alterar o modelo de competição de
forma a reduzir os custos de deslocação, viagens, dormidas e
alimentação, mas esta rúbrica representa apenas 5% do orçamento da
maioria dos Clubes. Mesmo assim, não ficou totalmente provado que os
custos possam ser reduzidos, tendo em conta a 2ª fase da competição que
será a nível nacional. O problema dos Clubes está nos elevados impostos
que são obrigados a pagar, representam 35% a 40% do orçamento e no
reduzido valor que recebem dos direitos de transmissão televisivos,
cerca de 25% do orçamento. A legalização das apostas on-line, os custos
de policiamento nos jogos e os direitos de formação de atletas são
outros problemas para os Clubes. É preciso os Clubes unirem-se e
definirem uma estratégia conjunta para valorizar o produto futebol, de
forma a gerar mais receitas na sua comercialização. Estar constantemente
a criticar e a desvalorizar o futebol português afasta potenciais
patrocinadores. E aí os responsáveis dos Clubes têm muita
responsabilidade.
5) Qual é o balanço que faz do trabalho da sua Direção?
Avançamos para este projeto com dois objetivos principais, primeiro
conseguir a viabilidade financeira e administrativa, aumentando o tempo
de vida do Clube e segundo estabilizar a equipa de futebol profissional
na 2ª Liga. Sobre o primeiro, estamos na fase final de uma dura batalha
com os credores para conseguir o seu aval para que o tribunal aprove o
plano de recuperação. No dia 17 de Janeiro, realizar-se-á a Assembleia
de credores, no Tribunal de Santo Tirso e nesse dia ficaremos a saber o
que acontecerá ao Clube. Vivemos momentos de grande tensão e de
apreensão, porque se trata de um momento decisivo para a continuidade do
Clube. Financeiramente, temos enjeitado esforços e criado sinergias
para cativar o interesse de investidores. O Clube continua com escassez
de receitas e precisa necessariamente de parcerias que ajudem a
completar o orçamento. Neste momento, temos já dois parceiros que tem
ajudado o Clube, mas o atual nível de investimento ainda é insuficiente.
Conforme referi anteriormente e de acordo com o interesse dos
investidores, estamos a estudar a possibilidade de avançarmos com a
constituição de uma sociedade anónima desportiva, denominada SAD, para a
próxima época. No que diz respeito à parte desportiva, penso que
estamos no bom caminho para conseguirmos chegar ao final do campeonato
fora dos lugares de descida. Depois do campeonato sofrido da época
passada, pensamos num projeto desportivo que trouxesse mais
tranquilidade, mas tivemos que ser rigorosos e realistas com o orçamento
e compromissos financeiros já assumidos. Montamos um plantel com enorme
potencial, recheado de valiosos ativos para o futuro, mas corremos o
risco de competir com uma equipa sem experiência de 2ª Liga. Sabíamos
que o início de época seria de extrema dificuldade e que tínhamos de ter
paciência com o trabalho que tinha de ser feito. Sinceramente, não
esperávamos estar 14 jogos sem ganhar para o campeonato, mas nunca
perdemos o norte e estivemos sempre confiantes no real valor da nossa
equipa. Lamento, não termos conseguido dar mais tempo ao treinador Luís
Diogo, porque apreciamos o seu profissionalismo e os métodos de
trabalho, mas consideramos ser necessário mudar. A mudança permitiu-nos
chegar acordo com Porfírio Amorim, um treinador sábio, com grande
capacidade de liderança e um mestre de relacionamento humano. Porfírio
Amorim conseguiu devolver a confiança aos jogadores e os resultados têm
sido brilhantes. Voltamos ao rumo da manutenção, estando neste momento
dentro do nosso objetivo, ou seja, 23 jornadas, 23 pontos. Tenho de
enaltecer o trabalho que está a ser feito ao nível do Departamento de
Formação, pois a formação e a integração de jogadores da formação na
equipa de futebol profissional é uma das nossas prioridades. Esta época,
integramos mais dois jogadores no plantel sénior, contabilizando neste
momento 5 jogadores oriundos da nossa formação. Para nós é um motivo de
orgulho. Em resumo, considero que o nosso trabalho é positivo, estamos
dentro daquilo a que nos propusemos, mas ainda temos um longo caminho a
percorrer.
6) Referiu com preocupação a aproximação da realização da Assembleia
de Credores. Quais as implicações da aprovação e da não aprovação do
plano de insolvência?
Conforme referi anteriormente, no dia 17 de Janeiro vai a jogo a vida do
Clube. Os credores serão chamados para votar um plano de insolvência,
em tudo idêntico ao plano apresentado no PER. Trata-se de um plano de
pagamento das dívidas durante os próximos 15 anos, de acordo com as
possibilidades do Clube. O objetivo da aprovação do plano é dar a
viabilidade ao Clube, através da redução significativa do passivo, para
que possa pagar as suas dívidas e continuar a exercer a sua atividade. A
não aprovação do plano implica que seja decretada a falência do Clube e
o consequente fechar de portas. Nesta situação o valor angariado com a
venda do património e a extinção do Clube servirá para pagar as dívidas.
Por tudo isto, trata-se de um ato de extrema importância e determinante
para o futuro do Clube. Contamos com o voto favorável dos maiores
credores, Dr. Rui Silva e família, mas isolados não são suficientes para
aprovação do plano, em virtude da classificação dos créditos. É este o
ponto da situação.
7) Certamente que existem mais credores que poderão contribuir para a
aprovação do plano. A empresa da Trofa que já mencionou anteriormente
podia ser um dos credores?
É óbvio que sim, pois tem um crédito significativo, em virtude do
fornecimento do sistema de iluminação do estádio, na ordem dos 350 mil
euros. Mas tendo em conta a forma enérgica e insistente como se tem
oposto à viabilidade do Clube, demonstrando total indisponibilidade para
renegociar a dívida, penso que será impossível contar com o voto
favorável. Dói pensar que a possibilidade de o Clube acabar está nas
mãos de uma empresa da Trofa, mas não podemos mudar a mentalidade do seu
Administrador. Estamos a falar de uma empresa que tem crescido de forma
notável, projetando o nome da Trofa a nível internacional e que tem
apresentado todos os anos lucros assinaláveis. Existem credores que
estão em pior situação financeira e que votarão favoravelmente o plano,
aceitando o perdão de dívida. Entre receber parte da dívida nos próximos
anos e esperar, talvez eternamente, que um dia o estádio e o complexo
sejam vendidos, ficando os fornecedores a rezar para que chegue o
dinheiro, toda a gente sabe o que é melhor. Eu interrogo-me sobre qual o
interesse dessa empresa neste processo? Tenho a dizer que nunca pensei
que houvesse tantas pessoas a querer e a fazer mal ao Clube, inclusive
pessoas que já tiveram grandes responsabilidades no Clube. A minha
Direção tem sido confrontada com várias e graves situações do ponto de
vista de interesses para o Clube, mas a seu tempo os sócios conhecerão
essas manobras que visam prejudicar o Clube.
8) Tem-se especulado muito nos últimos meses sobre o regresso à
presidência do Clube do antigo presidente Dr. Rui Silva, o que tem a
dizer sobre isso?
De facto tenho sido abordado e questionado por algumas pessoas sobre o
seu regresso, mas não tenho informações nesse sentido. É de conhecimento
público que o Dr. Rui Silva é uma pessoa próxima desta direção e é um
parceiro importantíssimo no processo de insolvência, sendo ele e a sua
família os maiores credores do Clube. Para além de tudo o que fez e deu
ao Clube, não esquecendo as atuais condições e infraestruturas e as
conquitas desportivas de enorme relevo para história da nossa
Instituição, e mesmo depois das injustiças que foi alvo, sei que
continua a gostar, a seguir e está disponível para ajudar. Aliás, tem
sido um generoso amigo desta Direção para conseguirmos cumprir com
alguns compromissos. Tenho a convicção que fará sempre parte da solução,
independentemente de estar dentro ou fora do Clube. Certo é que, esta
Direção vai cumprir o seu mandato.
9) O mandato da Direção que preside termina no final desta época desportiva. Tenciona recandidatar-se?
Em Maio temos que avaliar aquilo que fizemos e aquilo que podemos fazer
num novo mandato, para em consciência decidir sobre o que será melhor
para o Clube. A nossa missão ainda não está concluída, vamos aguardar
pelos próximos meses e tentar perceber o que os sócios pensam.
10) Para terminar, expetativas para 2014?
Faço votos que seja um ano de excelência para o Universo Trofense,
recheado de saúde, de estabilidade e de tranquilidade. O ano começa com o
tudo ou nada para o nosso Clube, mas estou confiante que seja aprovada a
viabilidade do Clube. Desejo que sejamos bem-sucedidos ao nível
desportivo, conseguindo de forma segura a manutenção na 2ª Liga. Espero
que o nosso projeto desportivo consiga gerar receitas extraordinárias
com a comercialização de ativos do Clube e consiga integrar mais
jogadores da formação no plantel sénior. Para este novo ano também
desejo um maior apoio ao Clube por parte dos sócios, patrocinadores,
autarquia e tecido empresarial do Concelho.
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