quinta-feira, setembro 20, 2012

O Noticias da Trofa | Festa Medieval apoia associações

A Quinta dos Carriços regressou à época medieval numa iniciativa que serviu para apoiar a Muro de Abrigo. Ideia ganhou expressão e outras associações do concelho também se associaram.

O rei chegou apoquentado. Anunciado o “percalço com o ferreiro”, seguiu-se o aviso: “Não gosto que ferrem os cavalos em frente ao Paço”. Na pequena viagem que fez desde a cidade berço, D. Afonso Henriques foi a grande figura da festa que se fez na Quinta dos Carriços, em S. Martinho de Bougado. 

“Entrant’a” vila, quer “cabaleiros”, nobles ou simplez povo, a “pee” ou a cavalo, tiveram à “desposiçom” “alamento” para um “bon” manjar, as melhores receitas para “coidar” as maleitas e os “beberes” para refrescar seus corpos. Fora a linguagem, que obrigava a um estudo intensivo do dicionário do galego medieval, toda a Festa Medieval organizada na Trofa foi pensada ao pormenor. 

As indumentárias cedidas pela escola profissional Cior (experiente neste tipo de eventos) ajudaram a fidelizar a encenação, para além dos animais, como aves e cobras, e personagens como os bobos da corte, as bailarinas e, claro está, o rei.
O monarca elogiou a “humildade” do povo e num discurso que resiste há décadas, fez promessas aos súbditos “como a subida dos impostos”. Antes de inaugurar a ceia medieval, D. Afonso Henriques afirmou que “o povo sabe que resolver as dificuldades cabe a todos, mas ultimamente só ele é que paga”.

A fidelidade da encenação da época medieval roubou muitas horas de trabalho a voluntários que se uniram para uma boa causa: ajudar a Muro de Abrigo com o lucro da venda de bilhetes e de comidas e bebidas. A ideia ganhou vida e uma envergadura que fez com que outras associações se associassem, ao explorarem uma tenda e venderem artigos próprios.

Ricardo Santos, elemento da organização e com alguma experiência na preparação de eventos solidários, explicou que “as noites de trabalho” foram compensadas pelo sucesso da iniciativa. Os 450 bilhetes de reserva esgotaram e tiveram de ser vendidos mais alguns à entrada. O sucesso faz a organização sonhar por uma segunda edição sem pensar em alargar o espaço: “Vale a pena tentar manter a qualidade, melhorar nalguns aspetos, porque este local não é mau”.

Fundos para a Muro de Abrigo vão ajudar a adquirir carrinha 

Com a verba angariada, cerca de 2500 euros, segundo dados da organização a direção da Muro de Abrigo pretende colmatar uma das várias necessidades da associação: adquirir uma carrinha adaptada para cadeira de rodas. “Às vezes, precisamos de levar um utente ao hospital e temos uma grande dificuldade nesse transporte”, explicou a presidente da instituição, Fátima Silva. 

No entanto, o maior desejo de Fátima Silva é ver o projeto da sede da Muro de Abrigo a sair do papel: “Todos os projetos estão prontos, assim como as certificações estão pagas. Só falta mesmo arrancar
com as obras”. Se esta é uma luta que dura anos, outra surgiu com o agravamento da crise: o apoio proveniente do Estado, que tem escasseado. “Em todo o lado, se justificam com a crise, mas pelo trabalho social que fazemos em vez do Estado, devíamos receber uma verba ‘louca’ por mês, mas não recebemos quase nada. Neste momento, temos o apoio domiciliário para 15 idosos, que surgiu de um acordo feito dentro de um orçamento muito reduzido. A verba que cabe a cada utente é muito pequena e, no fundo, é ela que nos está a ajudar a mantermo-nos de pé, senão já tínhamos fechado portas”, salientou. Fátima Silva sabe da importância da Muro de Abrigo não só para os idosos como para as famílias carenciadas das freguesias do Muro, Alvarelhos e Guidões, a quem dá apoio. Na Festa Medieval, também os utentes da Muro de Abrigo participaram com a venda de chás e compotas preparados na associação, ervas aromáticas e produtos naturais.

O Noticias da Trofa : Cátia Veloso / Patrícia Pereira 

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