A indústria do futebol cresceu mais nos últimos 15 anos que nos 100
anos anteriores. O aumento substancial das receitas dos Direitos Televisivos, da
Publicidade, do Merchandising e outras ligadas à Sponsorização e Marketing,
possibilitaram aos clubes uma capacidade financeira que não possuíam
anteriormente. Reflexo directo desse “músculo” financeiro foi a compra de
jogadores a preços nunca antes imaginados e os montantes dos contratos com os
jogadores aumentaram para níveis nunca supostos anteriormente. Os Clubes tiveram
adoptar as formas de gestão empresarial para acompanhar as necessidades do
mercado e passaram a funcionar como empresas, grandes, médias e pequenas,
conforme a dimensão de cada clube.
O mundo mudou e o velho futebol deu lugar a um novo futebol. O
velho clube, baseado na lógica social dos amigos ou no espírito associativista,
ficou completamente moribundo a meio dos anos 80 e morreu no inicio dos anos
90.
O Dirigente – Adepto,
paternalista, voluntarioso que baseava a sua mais-valia num conhecimento que
tinha com alguém próximo dos árbitros, ou na Associação ou na Federação, que
esperava ansiosamente pela nomeação do árbitro do seu próximo jogo, que esperava
que os empresários sugerissem jogadores para formar o plantel, que escolhia o
treinador ao gosto dos adeptos, que andava com o dinheiro no bolso para pagar
luvas, salários, prémios de jogo, almoços e jantares, etc, EXTINGUIU-SE. Esse perfil de dirigente
passou APENAS a ter sentido e espaço no desporto Amador. Se o Futebol passou a
interessar a Bancos, Grupos de Comunicação, Multinacionais, grandes empresas, o
dirigente – adepto, o carola, não podia ter mais espaço num futebol que se
queria profissional a todos os níveis, credível e transparente para cumprir as
leis e ser uma actividade competitiva. As Contas dos Clubes passaram a ser
transparentes e oficiais. Os Adeptos dos clubes começaram a familiarizar-se com
a linguagem económica, como a cotação das Acções do clube, as mais-valias
financeiras da venda de jogadores, cláusulas de rescisão, contratos de
publicidade, etc.
A realidade e a evolução do futebol, exigiu o aparecimento de um novo perfil de Dirigente Desportivo -
Profissional a tempo inteiro, conhecedor do mercado nacional e internacional,
boa carteira de contactos, conhecimentos do jogo, conhecimento e experiencia do
que é um jogador e um treinador profissional, visão prospectiva da realidade e
do mercado do futebol, conhecimento dos regulamentos nacionais e internacionais,
conhecimentos de gestão desportiva e de projectos, poliglota, etc
Com as características e as dificuldades económico-financeiras do
Futebol Português, os clubes, mesmo os grandes, têm que investir em 2 áreas
fundamentais – A Formação e a Prospecção. Uma é complementar da outra e ambas
são imprescindíveis em cada clube. Apostar a sério nestas 2 áreas só é possível
através de um Plano bem definido que contenha uma estratégia e uma acção
devidamente sistematizada. Ora, no caso do Trofense, a aposta séria na Formação
por “ ordem” do Presidente Rui Silva, que passou do discurso à prática, veja-se
a obra de Paradela. E, a aposta na Prospecção, coincide com passagem para
Director Desportivo do Prof. Porfírio Amorim, o que olhando à sua experiencia e
currículo, nem pode ser considerado uma surpresa. Basta ler os sinais, basta
interpretar o que está a ser feito e comparar com o que se fazia
antes.
Os trofenses interrogam-se muitas vezes, “porque não vendemos um jogador?”. A
resposta é simples, porque a qualidade da Formação não tem sido suficiente, e,
porque a Prospecção não existia. Dúvidas? Nenhuma. Vejamos, quem compra
jogadores em Portugal e no Estrangeiro? Clubes da I Liga. Depois do Tiago e do
Gaspar que jogadores formados no Trofense tinham qualidade para jogar numa I
Liga? Nenhum. Tanto é verdade que em 10 anos nenhum atingiu esse nível, e
contam-se pelos dedos de uma mão os que jogaram (muito pouco) na II Liga! Como
tal, o clube jamais poderia fazer uma mais-valia financeira com um jogador
formado nas suas escolas. Isto, para não referir que os juniores jogam na 2ª
divisão nacional do seu escalão.
Mas, na minha opinião, a questão da Prospecção é bem mais grave,
pois nos últimos anos os recursos financeiros que o Presidente Rui Silva
disponibilizou para a constituição dos sucessivos planteis não foram devidamente
aplicados. Melhor dito, foram sempre um Custo e nunca representaram um
Investimento. Foram cometidos erros atrás de erros na escolha de jogadores que
representaram muitos custos e nenhum retorno, quer desportivo quer financeiro.
Não podemos esquecer que falar em Prospecção para uma equipa sénior, significa
procurar jovens jogadores de qualidade – entre os 18 e os 23/24 anos.
Não querendo ir mais atrás no tempo, desde 2004/2005, a principal
característica da grande maioria contratações do Trofense era serem jogadores
acima dos 26 anos e/ou no declínio das suas carreiras. O Trofense contratou sem
critério, muitos jogadores em final de carreira. Ora, ninguém compra jogadores
deste nível em final de carreira. Mesmo que tenham alguma qualidade para jogar a
um nível superior nenhum clube paga alguma coisa por um jogador acima dos 25
anos. Estou a situar-me no espaço de qualidade correspondente ao CD Trofense.
Mesmo, algum dos jovens que vieram nos últimos anos para o Trofense, nunca
nenhum saiu para jogar a um nível superior ao do Trofense com sucesso! O Nuno
Pinto acaba de ser dispensado do Nacional, o Miguel Ângelo, foi dispensado do
Marítimo e o Caiado não jogou na Polónia como não jogou em nenhum clube
português e vai para um campeonato da 3ª Divisão mundial. Ou seja, em 6 anos
nenhum jovem talento foi contratado
pelo Trofense. Como poderíamos ter vendido? Só por milagre. Basta ver a média de idades dos nossos planteis nos últimos 6
anos para verificarmos que a grande maioria dos jogadores com algum
currículo chegou ao Trofense com idades entre os 29 e os 34 anos. Ou seja,
jogadores perto da reforma que apenas poderiam ajudar o clube no plano
desportivo. O plantel do Trofense tinha sempre uma das médias mais altas dos
campeonatos nacionais. Mas, infelizmente, até a maioria desses jogadores
“idosos” nem desportivamente ajudou o CDT. Lembro, o Lipatin, o Zé Carlos, o
R.Nascimento, Sidney, o Bessa, o Idalécio, o Edu, Paulo Sérgio, Marcos António,
Bispo, Torres, Mozer, Micael, Leandro Netto, Paulo Sousa, Dagil, Chad, etc.
Alguns deles com os contratos altíssimos (Lipatin, Sidney, Zé Carlos). Mesmo os
jogadores com mais prestigio da historia do clube, Hugo Leal, Delfim, Milton do
Ó, Tiago e Rui Borges, não tinham condições para a serem mais-valias económicas
para o clube, apesar de terem sido (o Tiago ainda joga) mais valias desportivas
e de terem dando prestigio ao clube.
Sobre os jovens jogadores contratados nos últimos 6 anos, basta ver
onde estão a jogar para verem que foram grandes equívocos completos – Rios,
Caiado, Kika, Vitor Bruno, Saavedra, Everson, Éder Silva, Gora Tall, Ricardo
Ribeiro, Mário Jorge, Kazeem, Fábio Paim, Leonardo, Pesca, entre muitos
outros.
Porque razão não houve um clube, pelo menos um, a cobiçar (comprar)
algum jogador da equipa do Trofense que subiu à I Liga? Nem do Chipre!! Isto
mostra bem o quanto a política desportiva não tinha consistência e essa foi uma
das razões (entre outras) porque o clube não se aguentou na I Liga. É que na I
Liga, não se vive de improvisos ou voluntarismos, e de facto, a constituição do
plantel e a planificação da época foram um desastre completo.
Quando um clube não tem Prospecção própria, fica nas mãos da oferta
e dos interesses de Agentes exteriores ao clube.
Parece-me que actualmente
tudo isso mudou dentro clube. Os sinais exteriores e as aquisições mostram
claramente uma inversão completa na política desportiva. Para já a média de
idades do plantel vai baixar consideravelmente. Estão a ser contratados
jogadores aparentemente desconhecidos mas cujas imagens que vi são muito
animadoras. Isto revela trabalho de “casa”, pois pelo que li, no caso dos
jogadores brasileiros, o acordo estaria feito desde Março e ninguém sabia. A
Prospecção é um trabalho invisível e constante.
Vamos aguardar para ver os resultados, mas as palavras do
Presidente Rui Silva esta semana ao Record e à Bola, expressam muita
segurança…”Sabemos o que queremos e para
onde vamos”.
Eu? Eu acho que desta
vez vamos ter jogadores para o CDT realizar bons encaixes
financeiros.
João Faustino
(sócio CDT)
(sócio CDT)
1 comentário:
Mais palavras para quê?
Está tudo explicado e bem explicado nesta Rubrica.Categórico.
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