segunda-feira, junho 14, 2010

Porque o Trofense nunca vendeu um jogador?

A indústria do futebol cresceu mais nos últimos 15 anos que nos 100 anos anteriores. O aumento substancial das receitas dos Direitos Televisivos, da Publicidade, do Merchandising e outras ligadas à Sponsorização e Marketing, possibilitaram aos clubes uma capacidade financeira que não possuíam anteriormente. Reflexo directo desse “músculo” financeiro foi a compra de jogadores a preços nunca antes imaginados e os montantes dos contratos com os jogadores aumentaram para níveis nunca supostos anteriormente. Os Clubes tiveram adoptar as formas de gestão empresarial para acompanhar as necessidades do mercado e passaram a funcionar como empresas, grandes, médias e pequenas, conforme a dimensão de cada clube.
O mundo mudou e o velho futebol deu lugar a um novo futebol. O velho clube, baseado na lógica social dos amigos ou no espírito associativista, ficou completamente moribundo a meio dos anos 80 e morreu no inicio dos anos 90.
O Dirigente – Adepto, paternalista, voluntarioso que baseava a sua mais-valia num conhecimento que tinha com alguém próximo dos árbitros, ou na Associação ou na Federação, que esperava ansiosamente pela nomeação do árbitro do seu próximo jogo, que esperava que os empresários sugerissem jogadores para formar o plantel, que escolhia o treinador ao gosto dos adeptos, que andava com o dinheiro no bolso para pagar luvas, salários, prémios de jogo, almoços e jantares, etc, EXTINGUIU-SE. Esse perfil de dirigente passou APENAS a ter sentido e espaço no desporto Amador. Se o Futebol passou a interessar a Bancos, Grupos de Comunicação, Multinacionais, grandes empresas, o dirigente – adepto, o carola, não podia ter mais espaço num futebol que se queria profissional a todos os níveis, credível e transparente para cumprir as leis e ser uma actividade competitiva. As Contas dos Clubes passaram a ser transparentes e oficiais. Os Adeptos dos clubes começaram a familiarizar-se com a linguagem económica, como a cotação das Acções do clube, as mais-valias financeiras da venda de jogadores, cláusulas de rescisão, contratos de publicidade, etc.
A realidade e a evolução do futebol, exigiu o aparecimento de um novo perfil de Dirigente Desportivo - Profissional a tempo inteiro, conhecedor do mercado nacional e internacional, boa carteira de contactos, conhecimentos do jogo, conhecimento e experiencia do que é um jogador e um treinador profissional, visão prospectiva da realidade e do mercado do futebol, conhecimento dos regulamentos nacionais e internacionais, conhecimentos de gestão desportiva e de projectos, poliglota, etc
Com as características e as dificuldades económico-financeiras do Futebol Português, os clubes, mesmo os grandes, têm que investir em 2 áreas fundamentais – A Formação e a Prospecção. Uma é complementar da outra e ambas são imprescindíveis em cada clube. Apostar a sério nestas 2 áreas só é possível através de um Plano bem definido que contenha uma estratégia e uma acção devidamente sistematizada. Ora, no caso do Trofense, a aposta séria na Formação por “ ordem” do Presidente Rui Silva, que passou do discurso à prática, veja-se a obra de Paradela. E, a aposta na Prospecção, coincide com passagem para Director Desportivo do Prof. Porfírio Amorim, o que olhando à sua experiencia e currículo, nem pode ser considerado uma surpresa. Basta ler os sinais, basta interpretar o que está a ser feito e comparar com o que se fazia antes.
Os trofenses interrogam-se muitas vezes, “porque não vendemos um jogador?”. A resposta é simples, porque a qualidade da Formação não tem sido suficiente, e, porque a Prospecção não existia. Dúvidas? Nenhuma. Vejamos, quem compra jogadores em Portugal e no Estrangeiro? Clubes da I Liga. Depois do Tiago e do Gaspar que jogadores formados no Trofense tinham qualidade para jogar numa I Liga? Nenhum. Tanto é verdade que em 10 anos nenhum atingiu esse nível, e contam-se pelos dedos de uma mão os que jogaram (muito pouco) na II Liga! Como tal, o clube jamais poderia fazer uma mais-valia financeira com um jogador formado nas suas escolas. Isto, para não referir que os juniores jogam na 2ª divisão nacional do seu escalão.
Mas, na minha opinião, a questão da Prospecção é bem mais grave, pois nos últimos anos os recursos financeiros que o Presidente Rui Silva disponibilizou para a constituição dos sucessivos planteis não foram devidamente aplicados. Melhor dito, foram sempre um Custo e nunca representaram um Investimento. Foram cometidos erros atrás de erros na escolha de jogadores que representaram muitos custos e nenhum retorno, quer desportivo quer financeiro. Não podemos esquecer que falar em Prospecção para uma equipa sénior, significa procurar jovens jogadores de qualidade – entre os 18 e os 23/24 anos.
Não querendo ir mais atrás no tempo, desde 2004/2005, a principal característica da grande maioria contratações do Trofense era serem jogadores acima dos 26 anos e/ou no declínio das suas carreiras. O Trofense contratou sem critério, muitos jogadores em final de carreira. Ora, ninguém compra jogadores deste nível em final de carreira. Mesmo que tenham alguma qualidade para jogar a um nível superior nenhum clube paga alguma coisa por um jogador acima dos 25 anos. Estou a situar-me no espaço de qualidade correspondente ao CD Trofense. Mesmo, algum dos jovens que vieram nos últimos anos para o Trofense, nunca nenhum saiu para jogar a um nível superior ao do Trofense com sucesso! O Nuno Pinto acaba de ser dispensado do Nacional, o Miguel Ângelo, foi dispensado do Marítimo e o Caiado não jogou na Polónia como não jogou em nenhum clube português e vai para um campeonato da 3ª Divisão mundial. Ou seja, em 6 anos nenhum jovem talento foi contratado pelo Trofense. Como poderíamos ter vendido? Só por milagre. Basta ver a média de idades dos nossos planteis nos últimos 6 anos para verificarmos que a grande maioria dos jogadores com algum currículo chegou ao Trofense com idades entre os 29 e os 34 anos. Ou seja, jogadores perto da reforma que apenas poderiam ajudar o clube no plano desportivo. O plantel do Trofense tinha sempre uma das médias mais altas dos campeonatos nacionais. Mas, infelizmente, até a maioria desses jogadores “idosos” nem desportivamente ajudou o CDT. Lembro, o Lipatin, o Zé Carlos, o R.Nascimento, Sidney, o Bessa, o Idalécio, o Edu, Paulo Sérgio, Marcos António, Bispo, Torres, Mozer, Micael, Leandro Netto, Paulo Sousa, Dagil, Chad, etc. Alguns deles com os contratos altíssimos (Lipatin, Sidney, Zé Carlos). Mesmo os jogadores com mais prestigio da historia do clube, Hugo Leal, Delfim, Milton do Ó, Tiago e Rui Borges, não tinham condições para a serem mais-valias económicas para o clube, apesar de terem sido (o Tiago ainda joga) mais valias desportivas e de terem dando prestigio ao clube.
Sobre os jovens jogadores contratados nos últimos 6 anos, basta ver onde estão a jogar para verem que foram grandes equívocos completos – Rios, Caiado, Kika, Vitor Bruno, Saavedra, Everson, Éder Silva, Gora Tall, Ricardo Ribeiro, Mário Jorge, Kazeem, Fábio Paim, Leonardo, Pesca, entre muitos outros.
Porque razão não houve um clube, pelo menos um, a cobiçar (comprar) algum jogador da equipa do Trofense que subiu à I Liga? Nem do Chipre!! Isto mostra bem o quanto a política desportiva não tinha consistência e essa foi uma das razões (entre outras) porque o clube não se aguentou na I Liga. É que na I Liga, não se vive de improvisos ou voluntarismos, e de facto, a constituição do plantel e a planificação da época foram um desastre completo.
Quando um clube não tem Prospecção própria, fica nas mãos da oferta e dos interesses de Agentes exteriores ao clube.
Parece-me que actualmente tudo isso mudou dentro clube. Os sinais exteriores e as aquisições mostram claramente uma inversão completa na política desportiva. Para já a média de idades do plantel vai baixar consideravelmente. Estão a ser contratados jogadores aparentemente desconhecidos mas cujas imagens que vi são muito animadoras. Isto revela trabalho de “casa”, pois pelo que li, no caso dos jogadores brasileiros, o acordo estaria feito desde Março e ninguém sabia. A Prospecção é um trabalho invisível e constante.
Vamos aguardar para ver os resultados, mas as palavras do Presidente Rui Silva esta semana ao Record e à Bola, expressam muita segurança…”Sabemos o que queremos e para onde vamos”.
Eu? Eu acho que desta vez vamos ter jogadores para o CDT realizar bons encaixes financeiros.
João Faustino
(sócio CDT)

1 comentário:

antoniocamposcosta disse...

Mais palavras para quê?
Está tudo explicado e bem explicado nesta Rubrica.Categórico.