segunda-feira, janeiro 06, 2014

Entrevista Presidente Paulo Melro – balanço 2013 | expetativas 2014

O Presidente do Clube Desportivo Trofense, Dr. Paulo Melro, concedeu uma entrevista exclusiva ao site do Clube, fazendo o balanço de 2013 e traçando o ano de 2014, a começar pela importante Assembleia de Credores, no dia 17 de Janeiro.

1) Presidente, que balanço faz do ano 2013 para a Instituição Clube Desportivo Trofense?
Trata-se de um ano positivo, porque conseguimos dar esperança de vida ao Clube. Conseguimos a manutenção na 2ª Liga com mérito, depois de um início de época doloroso e de uma primeira volta pouco conseguida. A margem erro era nula, estivemos sempre sobre pressão, mas o grupo de trabalho liderado pelo treinador Micael Sequeira teve competência e qualidade para inverter a situação e evitar o descalabro para o Clube. O processo de constituição da SDUQ e de inscrição da equipa futebol profissional foram grandes vitórias, tendo em conta os graves problemas financeiros e administrativos que assolam o Clube. A pior fase do ano aconteceu já esta época, onde passamos por um ciclo negativo de 14 jogos sem ganhar, que provocaram descrédito e desconfiança sobre o nosso projeto e sobre os nossos profissionais. No final do ano conseguimos inaugurar um espaço emblemático para o Universo Trofense, a Loja do Trofense. Diz-se que o homem sonha e a obra nasce e neste caso foi isso que aconteceu. Foi um enorme orgulho para esta Direção conseguir disponibilizar aos sócios um espaço recheado de histórias do Clube, de simbolismo e de identidade. Gostava de deixar uma palavra de reconhecimento e de agradecimento aos funcionários e diretores do Clube, pessoas que trabalham nos bastidores e que diariamente dão muito de si para este Clube funcionar. Muito do sucesso do nosso trabalho assenta no esforço e na dedicação dessas pessoas ao Clube.

2) Momentos altos e baixos de 2013?
Escolho como momentos altos a concretização da manutenção desportiva da época passada, destacando a semana fantástica de Abril, com vitórias nos jogos frente ao Porto B, Santa Clara e Braga B, que nos permitiu ficar muito perto do objetivo e a também a vitória desta época na Covilhã, que teve um sabor muito especial, não só por ser expressiva e contundente, mas porque encerrou um tremendo ciclo de 14 jogos sem ganhar. Como momentos baixos temos a não aprovação do plano especial de revitalização (PER), que colocou em risco a viabilidade do Clube e o encaminhou para um processo de insolvência, dolorosamente fruto da ação e oposição de uma empresa da Trofa, pertencente a uma família de Trofenses.

3) Como estão as finanças do Clube?
Continuamos com muitas dificuldades para cumprir com os nossos compromissos. Fizemos um orçamento muito rigoroso e equilibrado, mas as receitas fixas continuam abaixo das despesas. Continuamos à espera que a Câmara Municipal da Trofa pague o subsídio de 2011, através do PAEL, dinheiro esse que está afeto a compromissos da época passada. Como sabem o Clube não recebeu subsídios camarários em 2012 e 2013 e estamos expectantes sobre o subsídio que o atual executivo atribuirá ao Clube em 2014. Temos o apoio de muitas empresas, na qual destaco naturalmente a Trifitrofa, na pessoa do Senhor Jaime Azevedo, sempre disponível para ajudar o Clube, mas continua a ser insuficiente. O défice tem sido atenuado graças às parcerias que temos feito no futebol profissional. Estamos a repensar a estratégia para tornar o futebol profissional autossustentável e, brevemente, teremos de expor esta situação aos sócios, para tomarmos uma decisão, que pode passar pela constituição de uma SAD, abrindo o capital a novos investidores. Se for aprovado, o pagamento do plano de recuperação agravará o orçamento desta época e das próximas em cerca de 15%. O Trofense não está à margem de muitos dos Clubes que disputam as competições profissionais, ou seja, neste modelo de receitas não são sustentáveis, nem viáveis, mesmo com os orçamentos mínimos. A solução pode passar pela renegociação dos direitos de transmissões televisivas e pela legalização das apostas on-line, mas estes assuntos são muito delicados, pois convergem de acordo com os interesses de terceiros. O futebol profissional ao nível da 2ª Liga tem que ser repensado. Aproveito para informar que as contas do exercício de 2012/2013 estão em fase de conclusão, podendo ser apresentadas durante o mês de fevereiro.

4) Na sua opinião a Liga de Clubes pode e deve fazer mais na luta pelos interesses dos Clubes?
Sei que o Senhor Presidente, Dr. Mário Figueiredo, tem-se empenhado pessoalmente em duras lutas pelos interesses dos Clubes. Contudo, o resultado é inglório, porque levantam-se outros valores em assuntos delicados como já referi. Existe um grupo de Clubes que exige mais à Liga, mas estes problemas só podem ser resolvidos pelas altas patentes do futebol português e do nosso Governo. No que diz respeito à 2ª Liga, houve sinergias que se criaram para alterar o modelo de competição de forma a reduzir os custos de deslocação, viagens, dormidas e alimentação, mas esta rúbrica representa apenas 5% do orçamento da maioria dos Clubes. Mesmo assim, não ficou totalmente provado que os custos possam ser reduzidos, tendo em conta a 2ª fase da competição que será a nível nacional. O problema dos Clubes está nos elevados impostos que são obrigados a pagar, representam 35% a 40% do orçamento e no reduzido valor que recebem dos direitos de transmissão televisivos, cerca de 25% do orçamento. A legalização das apostas on-line, os custos de policiamento nos jogos e os direitos de formação de atletas são outros problemas para os Clubes. É preciso os Clubes unirem-se e definirem uma estratégia conjunta para valorizar o produto futebol, de forma a gerar mais receitas na sua comercialização. Estar constantemente a criticar e a desvalorizar o futebol português afasta potenciais patrocinadores. E aí os responsáveis dos Clubes têm muita responsabilidade.

5) Qual é o balanço que faz do trabalho da sua Direção?
Avançamos para este projeto com dois objetivos principais, primeiro conseguir a viabilidade financeira e administrativa, aumentando o tempo de vida do Clube e segundo estabilizar a equipa de futebol profissional na 2ª Liga. Sobre o primeiro, estamos na fase final de uma dura batalha com os credores para conseguir o seu aval para que o tribunal aprove o plano de recuperação. No dia 17 de Janeiro, realizar-se-á a Assembleia de credores, no Tribunal de Santo Tirso e nesse dia ficaremos a saber o que acontecerá ao Clube. Vivemos momentos de grande tensão e de apreensão, porque se trata de um momento decisivo para a continuidade do Clube. Financeiramente, temos enjeitado esforços e criado sinergias para cativar o interesse de investidores. O Clube continua com escassez de receitas e precisa necessariamente de parcerias que ajudem a completar o orçamento. Neste momento, temos já dois parceiros que tem ajudado o Clube, mas o atual nível de investimento ainda é insuficiente. Conforme referi anteriormente e de acordo com o interesse dos investidores, estamos a estudar a possibilidade de avançarmos com a constituição de uma sociedade anónima desportiva, denominada SAD, para a próxima época. No que diz respeito à parte desportiva, penso que estamos no bom caminho para conseguirmos chegar ao final do campeonato fora dos lugares de descida. Depois do campeonato sofrido da época passada, pensamos num projeto desportivo que trouxesse mais tranquilidade, mas tivemos que ser rigorosos e realistas com o orçamento e compromissos financeiros já assumidos. Montamos um plantel com enorme potencial, recheado de valiosos ativos para o futuro, mas corremos o risco de competir com uma equipa sem experiência de 2ª Liga. Sabíamos que o início de época seria de extrema dificuldade e que tínhamos de ter paciência com o trabalho que tinha de ser feito. Sinceramente, não esperávamos estar 14 jogos sem ganhar para o campeonato, mas nunca perdemos o norte e estivemos sempre confiantes no real valor da nossa equipa. Lamento, não termos conseguido dar mais tempo ao treinador Luís Diogo, porque apreciamos o seu profissionalismo e os métodos de trabalho, mas consideramos ser necessário mudar. A mudança permitiu-nos chegar acordo com Porfírio Amorim, um treinador sábio, com grande capacidade de liderança e um mestre de relacionamento humano. Porfírio Amorim conseguiu devolver a confiança aos jogadores e os resultados têm sido brilhantes. Voltamos ao rumo da manutenção, estando neste momento dentro do nosso objetivo, ou seja, 23 jornadas, 23 pontos. Tenho de enaltecer o trabalho que está a ser feito ao nível do Departamento de Formação, pois a formação e a integração de jogadores da formação na equipa de futebol profissional é uma das nossas prioridades. Esta época, integramos mais dois jogadores no plantel sénior, contabilizando neste momento 5 jogadores oriundos da nossa formação. Para nós é um motivo de orgulho. Em resumo, considero que o nosso trabalho é positivo, estamos dentro daquilo a que nos propusemos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.

6) Referiu com preocupação a aproximação da realização da Assembleia de Credores. Quais as implicações da aprovação e da não aprovação do plano de insolvência?
Conforme referi anteriormente, no dia 17 de Janeiro vai a jogo a vida do Clube. Os credores serão chamados para votar um plano de insolvência, em tudo idêntico ao plano apresentado no PER. Trata-se de um plano de pagamento das dívidas durante os próximos 15 anos, de acordo com as possibilidades do Clube. O objetivo da aprovação do plano é dar a viabilidade ao Clube, através da redução significativa do passivo, para que possa pagar as suas dívidas e continuar a exercer a sua atividade. A não aprovação do plano implica que seja decretada a falência do Clube e o consequente fechar de portas. Nesta situação o valor angariado com a venda do património e a extinção do Clube servirá para pagar as dívidas. Por tudo isto, trata-se de um ato de extrema importância e determinante para o futuro do Clube. Contamos com o voto favorável dos maiores credores, Dr. Rui Silva e família, mas isolados não são suficientes para aprovação do plano, em virtude da classificação dos créditos. É este o ponto da situação.

7) Certamente que existem mais credores que poderão contribuir para a aprovação do plano. A empresa da Trofa que já mencionou anteriormente podia ser um dos credores?
É óbvio que sim, pois tem um crédito significativo, em virtude do fornecimento do sistema de iluminação do estádio, na ordem dos 350 mil euros. Mas tendo em conta a forma enérgica e insistente como se tem oposto à viabilidade do Clube, demonstrando total indisponibilidade para renegociar a dívida, penso que será impossível contar com o voto favorável. Dói pensar que a possibilidade de o Clube acabar está nas mãos de uma empresa da Trofa, mas não podemos mudar a mentalidade do seu Administrador. Estamos a falar de uma empresa que tem crescido de forma notável, projetando o nome da Trofa a nível internacional e que tem apresentado todos os anos lucros assinaláveis. Existem credores que estão em pior situação financeira e que votarão favoravelmente o plano, aceitando o perdão de dívida. Entre receber parte da dívida nos próximos anos e esperar, talvez eternamente, que um dia o estádio e o complexo sejam vendidos, ficando os fornecedores a rezar para que chegue o dinheiro, toda a gente sabe o que é melhor. Eu interrogo-me sobre qual o interesse dessa empresa neste processo? Tenho a dizer que nunca pensei que houvesse tantas pessoas a querer e a fazer mal ao Clube, inclusive pessoas que já tiveram grandes responsabilidades no Clube. A minha Direção tem sido confrontada com várias e graves situações do ponto de vista de interesses para o Clube, mas a seu tempo os sócios conhecerão essas manobras que visam prejudicar o Clube.

8) Tem-se especulado muito nos últimos meses sobre o regresso à presidência do Clube do antigo presidente Dr. Rui Silva, o que tem a dizer sobre isso?
De facto tenho sido abordado e questionado por algumas pessoas sobre o seu regresso, mas não tenho informações nesse sentido. É de conhecimento público que o Dr. Rui Silva é uma pessoa próxima desta direção e é um parceiro importantíssimo no processo de insolvência, sendo ele e a sua família os maiores credores do Clube. Para além de tudo o que fez e deu ao Clube, não esquecendo as atuais condições e infraestruturas e as conquitas desportivas de enorme relevo para história da nossa Instituição, e mesmo depois das injustiças que foi alvo, sei que continua a gostar, a seguir e está disponível para ajudar. Aliás, tem sido um generoso amigo desta Direção para conseguirmos cumprir com alguns compromissos. Tenho a convicção que fará sempre parte da solução, independentemente de estar dentro ou fora do Clube. Certo é que, esta Direção vai cumprir o seu mandato.

9) O mandato da Direção que preside termina no final desta época desportiva. Tenciona recandidatar-se?
Em Maio temos que avaliar aquilo que fizemos e aquilo que podemos fazer num novo mandato, para em consciência decidir sobre o que será melhor para o Clube. A nossa missão ainda não está concluída, vamos aguardar pelos próximos meses e tentar perceber o que os sócios pensam.

10) Para terminar, expetativas para 2014?
Faço votos que seja um ano de excelência para o Universo Trofense, recheado de saúde, de estabilidade e de tranquilidade. O ano começa com o tudo ou nada para o nosso Clube, mas estou confiante que seja aprovada a viabilidade do Clube. Desejo que sejamos bem-sucedidos ao nível desportivo, conseguindo de forma segura a manutenção na 2ª Liga. Espero que o nosso projeto desportivo consiga gerar receitas extraordinárias com a comercialização de ativos do Clube e consiga integrar mais jogadores da formação no plantel sénior. Para este novo ano também desejo um maior apoio ao Clube por parte dos sócios, patrocinadores, autarquia e tecido empresarial do Concelho.

Sem comentários: